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Olá, pessoal!

Muito obrigada pela visita de vocês! Como podem ver, postei mais uma parte do nosso misterioso Efêmero! Espero que gostem!

Em breve, mais novidade! Estou escrevendo um Romance Policial! Depois falo mais sobre ele.

Mais uma vez, obrigada pela visita! Comentem!

Paz!

Link Efêmero – 1ª parte

nuvem

Decepciono-me, precipitadamente, com qualquer um que vier oferecer-me a amizade.

É como entrar em um quarto vazio, por opção, e desejar ficar só e trancada. Apagar da memória, sem dó, aqueles que me fizeram cair de gargalhada, e hoje me fizeram cair em abismo profundo de estar só.

Sentei-me, desapontada. Via a parede se mexer entre o vão dos meus cabelos. Na mente, o pensamento que teima, desesperadamente, em se agarrar nas veias, buscando sobrevivência. Tento me convencer de que já passou, mas são tentativas vãs.

Depois do topo da árvore, no céu avisto uma coluna cilíndrica, e, quase invisível, perfura as nuvens. Um fino espiral branco a envolve, fazendo-a ser percebida. Um grito por companhia. E a voz não se propaga, perde a força no meio do caminho, não chega a lugar algum. O medo foge do grito, o grito atrai o medo, o medo salta para fora com o grito, e acordo.

Cansei-me também dos olhares de compaixão. No fundo, percebem que sou vítima do meu próprio mau. Ou não percebem droga nenhuma, apenas tenho cara de triste e cansada. Queria poder escrever-me, amassar-me e jogar-me do lixo. Começar de novo, com um novo começo, talvez parte do meio e um belo recomeço. Não gosto de coisas previsíveis, apesar de serem mais confortáveis. Meu futuro é previsível, saberia descrevê-lo com detalhes, mas prefiro mudá-lo. Gostaria de nunca encontrar amigos, mas apenas boas pessoas. Boas por não me fazerem sofrer com despedidas, por não cobrarem freqüente companhia, lembranças de aniversário, ou bom humor quando não quero. Gostaria apenas que aceitassem meu silêncio, minha inconstância, meus medos e defeitos, mas sem compromisso. Talvez nunca saiba o que é uma amizade, a não ser a daquele que me fez ser.

Desligou o telefone.

Tudo o que sobrou dentro do peito não passa de um bolinho de músculo moído, pulsante e ensangüentado, obrigado a trabalhar como um escravo.

Já passou da meia noite, e seu corpo precisava descansar.

Uma saliva espessa e amarga de tristeza lhe invadiu a boca. Precisava cuspir. Como um enorme peixe cospe um homem fugido de sua missão.

Toda aquela tortura podia ser confundida com medo, insônia, ou excesso de cafeína, certamente.

Nada mais do que saudade.

Além da dor no peito, sentia dor na ponta dos dedos por ter cortado as unhas recentemente, bem curtas, para que demorassem um pouco mais a crescer.

Levantou-se decidida como se uma coisa precisasse ser feita – naquele instante.

Não consigo mais. Já se foi minha última gota. Não posso mais suportar isso tudo. Desculpe-me. Bem que eu tentei. Mas estou disposta a – se você quiser – ser ajudada. Por favor, me ajude a viver longe de você. Ensina-me como é que se suporta. Me ajuda.

Está consumado.

Está consumida.

Vento

200803071341349331

O vento que leva

a chuva, leva o seco

O vento que leva

o leve, leva o peso

O vento que brisa

o rosto, rompe o muro

O vento que passa

aqui, vai pairar lá

O vento que arranca

a folha, as varre longe

O vento que sopra

a pétala, encaminha o pólem

O vento que ispiro

e respiro, inspira poesia

crianca-2Há dez anos, eu tinha sete anos. Provavelmente sabia quantos dias faltavam para o meu aniversário. Este ano ainda nem olhei no calendário em que dia vai cair.

Há dez anos, ia pra escola com meus pais. Não sabia o porquê de ter que ir, mas se ia todos os dias deveria haver um motivo melhor que a merenda.

Há dez anos, morava em outra casa, tinha outros amigos, tinha outros sonhos, outros medos. Andava pelo jardim à noite, com a convicção de que tinha um lobo gigante escondido entre as plantas, me observando.

Há dez anos, tinha certeza do que queria ser, quantos filhos queria ter, em que país iria morar, que corte de cabelo deveria usar.

Há dez anos, o mundo era muito diferente. Parecia ser tão fácil viver, apesar de ter que levantar, ainda com sono, e tomar banho pra ir pra escola, ou escovar os dentes depois da janta.

Há dez anos, amava ir votar com meus pais, era divertido digitar os números e escutar o barulhinho depois de confirmar. Pena só poder brincar daquilo uma vez a cada dois anos. Falando nisso ainda não tirei meu Título de Eleitor.

Há dez anos, eu sabia coisas que hoje já esqueci. Tinha mais coisas, que hoje já perdi. Eu sonhava mais, dormia melhor, tinha um coração tão sensível que chorava por menor que fosse o tombo. Depois achava graça, é claro.

Há dez anos, Deus era tão mais próximo que eu jurava O sentir tocar no meu rosto quando eu olhava as estrelas.

Há dez anos, diferente de todo o resto das crianças, não queria me tornar adulta logo. Os passarinhos, sim, eram admiráveis.

Há dez anos, não tinha medo de escuro, nem nojo de centopéia. Pensando bem, quem sabe tivesse, mas não media minha coragem pelo meu tamanho.

Daqui a dez anos, não sei o que vai acontecer, embora eu planeje tanto. Não sei se estarei formada, se estarei casada e com filhos. Não sei nem se vou estar viva. Talvez consiga, daqui a dez anos relembrar o dia em que procurei minha menina.

planetas

Ela acordou não acreditando que já era manhã. Se eu pudesse quebraria o relógio, só pra parar o tempo. A luz do Sol entrava pela fresta da porta, batia na cara como uma velha inimiga. Se eu pudesse furaria os olhos, só pra que a luz fosse em vão. O estomago doía, o sentia vazio. Sentia vazio também o peito. O quarto foi se esvaziando aos poucos: se foi o berço, se foram os brinquedos, se foram os livros, se foram os sonhos. Do guarda-roupa até os monstros se foram. Invadiram-lhe a cabeça. Na vida, mil perguntas a atormentavam, a pior delas: acordar ou não? Lutava fraca pra abrir os olhos. A secreção cortinava o secreto. Sabe, amor, seus olhos são um par de mistérios. A dor debatia no estômago, a alma levita morta no vazio de um infinito imenso do seu corpo. Imaginava-se num jardim de tulipas brancas, gostava de tulipas brancas. Deram-lhe as mais brancas margaridas, mas eram margaridas. Guardou tanto segredo quando havia a quem contasse e, agora, no seu quarto, as paredes se fazem surdas. Na boca um gosto de passado. A língua, sem saliva de tanto ter quem os seus beijos desejasse. Os dentes pálidos de tanto sorrir. Seu sorriso transmite paz, nunca perca esse sorriso. Onde foi que o deixei? Naquele oceano, uma gota de sangue o faria vermelho. É tudo ou nada. Agora, sim, acordou. Sentia-se envolta por uma fina linha de ouro, repousada numa folha verdinha, e se contorcia de dor. Era obrigada a ficar intacta – a dor a ameaçava. Seus delírios a dominavam. Tentava se elucidar, mas o corpo atolava com tanta lama. Sentia-se pesada. Queria virar pro outro lado. Estava presa num sono ilusório. Sonhava um dia dormir em paz. Sua vida era um pesadelo. Leu todos os livros, jamais desejou tê-los escrito. Iniciou muitos diários, não passava do terceiro dia, pedia desculpas. Não teria coragem de registrar seus segredos, bastava que ela mesma os soubesse. Um dia recebeu um abraço. Sentiu a voz dele trêmula, bem próxima do seu ouvido, sentiu o coração dele batendo nervoso no seu peito. Constatou a desarmonia mais aflita depois daquele sorriso satisfeito, se despedindo. Aquela foi uma viagem rápida. E aquele abraço, os segundos teimavam em se arrastar, como uma mula. Teve pena, mas não conseguia contar que o que ele sentia era um engano. Calada, sorria forçada, tentava disfarçar, se foi calada. Ele a estava esperando. Olhava na direção que ela não viria. Se ela pudesse o tocar, chegaria devagar, cobriria com as mãos os seus olhos, ficaria calada. Ele saberia que era ela, só poderia ser ela. Um dia ela quis abrir os olhos dele. Pra ver um planeta, que é tão grande e distante, é preciso uma luneta. Pra ver uma bactéria, que é tão pequena e próxima, é preciso um microscópio. Nossos espaços são eqüidistantes, então venha você a mim. Pequeno ou grande, seu sonho cabe nos seus olhos, basta escolher: microscópio ou luneta. Negou todos os beijos presentes. Queria mesmo era beijar o Sol. Ele viria até ela montado num cometa.

Efêmero

nuvem

Na manhã daquele dia, acordou cedo. Seus pulmões sentiam falta do aroma da manhãzinha. Há muito não acordava cedo.

Sentiu correr um vento frio nos pés descobertos. Tinha mania de excluir os pés do quentinho do cobertor, e ainda os deixava fora da cama. Uma mania interessante que escolheu ter, e que acabou virando necessidade na hora de dormir.

Viu lá fora as nuvens brancas, que encobriam todo o céu. Seria um dia frio, depois de uma semana inteira de um calor que lhe provocara cansaço e tristeza.

Limpou os olhos ali mesmo. Cobriu-se um pouco mais. Ainda tinha sono. Fechou os olhos, cobriu o rosto. A noite fora tranqüila.

Os pássaros anunciavam o começar de um novo dia. Sentiu grande paz naquele instante. Há muito não sentia tanta paz.

Pouco tempo, depois de um leve cochilo, o sono se foi. Resolveu levantar. Vestiu algo que espantasse o frio.

Desceu as escadas sem muita pressa. Queria testemunhar aquele dia com calma.

A barriga reclamou de fome. Foi até a cozinha, pôs para esquentar o café e o pão.

Enquanto isso, quis se ver no espelho. Insatisfeita, arrumou os cabelos soltos. Se olhou profundamente nos olhos sérios, parou por um momento. A testa franzida confessava sua preocupação. Passou os dedos sobre as sobrancelhas, desfazendo as rugas que ainda não tinha. Por um momento um calor; logo passou.

Lembrou de um tempo. Lembrou da chaleira antiga no fogo. Despediu-se da imagem com um sorriso sutil. Mais uma vez arrumou os cabelos.

Sentiu-se sozinha sem estar. Esteve por algum tempo, mas agora não. Quis estar naquela hora. Decidiu assim.

O pão estava como lhe agradava. O café quase queimou. A chaleira atrapalhada a obrigava tomar cuidado pra não se queimar. Assemelhava-se com alguém, achou triste graça nisso. Não encheu muito a xícara, comportou o pão cortado em dois num pequeno prato.

Ainda sem pressa, caminhou até a sala de estar. Passou um vento, a fez sentir estar. Aconchegou-se no sofá maior, a paz aconchegou-se, num silêncio jamais ouvido por ela.

Bebericou o café. Franziu a testa. Estava sem sabor, lhe faltava o doce. Levantou-se sem muito cuidado, derramou um pouco da pequena quantidade que ainda restava. Um pouco mais de café na xícara, cuidado com a velha chaleira. Temperou o café. Agora estava bem melhor.

Desejou se alimentar no quintal. Sentou-se perto do jardim, das flores. O Sol completou a luz que faltava. Mordeu o pão, bebeu mais do café.

Os olhos, distraídos, se perderam entre as pedrinhas no chão. Voltou para sala, deixou a porta aberta, terminou seu café.

Normalmente sentia um vazio. Pensava nas pessoas. Principalmente nas que jamais se lembrariam dela. Por um momento se sentia rodeada delas, mesmo que não fossem tão importantes assim. Na verdade não importa, elas não estavam ali.

Seus pensamentos afundavam de tal forma, e dentre aquelas pedrinhas, lembranças indiferentes. Cenas banais, mas que ela daria o presente pra voltar àquele tempo.

O frio estava mesmo indo embora. Da testa minava de leve o suor. O vento não volta mais.

Se importou, durante a vida, com coisas pequenas. Gostava de se isolar, e por isso não via as estrelas. Houve um dia em que foi ali fora, deitou no chão e viu as estrelas. Viu um cometa que se aproximou da Terra, como uma gozação, e seguiu seu caminho. Só queria apresentar-lhe o infinito. Um infinito existe.

Tentava contá-las, mas amanhecia antes que o terminasse. Sentia-se num mundo irreal, como se ela fosse apenas um sonho esquecido de alguém. E ele era tão distante, um desconhecido no mais íntimo seu.

Havia uma força, vinda de não sei onde, que lhe dava coragem pra sair de órbita. Bastava um pulo, e estava lá, entre as estrelas.

Parei em frente àquela árvore. Havia apenas uma fruta. Nela havia uma gota, como uma lágrima em um rosto. Delicadamente, a amparei com o dedo. Vi você ali. Sinceramente, posso dizer: errei muitas vezes, mas te amo tanto. Não queria ser assim como sou, embora sejas responsável pelo que sou.

Não suporto a sensação de o sentir longe de mim. É como ver todos os dias um velho amigo que nada me fez, e virar o rosto pra ele. Mas és mais que um velho amigo, és… quem és. Perdoe-me. Porque é de ti que me vêm as inspirações, os suspiros, o respirar.

Continuas o mesmo. Já eu, me sinto outra.

(continua…)